Vício de hoje:

Vício de hoje:Há quem sonhe com coisas que aconteceram, e explicam porquê. Eu sonho com coisas que nunca acontecerão e pergunto: porque não?


quarta-feira, 23 de junho de 2010

De partir



de partir....
são as minhas palavras....

2 comentários:

  1. Na beira de um precipício, ela sentou-se e chorou.

    Com o cabelo a esvoaçar à sua volta e as faces molhadas de lágrimas, viu a vida passar à frente dos seus olhos e voar para longe, sem que ela estendesse um braço para a apanhar.

    E o pior ainda estava para vir? Então que viesse, pois ela já descera todos os degraus até ao poço do seu coração, de onde nunca sairia.

    Não consegue sentir mais, não consegue sentir menos. Morreu de amor pela dor e pela própria morte.

    E disse Pessoa um dia, como tantos antes dele: “Quem quase morre ainda está vivo, quem quase vive já morreu”.

    E ela chora sobre sangue derramado e sobre ossos bolorentos e quebrados. Sobre cadáveres, mortes sobre pedras, manchados de cores de guerras, fardados com os seus sonhos. O seu futuro numa fossa onde apenas as memórias mais escondidas chegam.

    Junta as mãos numa prece e em vez de pedir por um futuro, implora por um regresso ao passado. Porque o futuro ao seu olhar não chega e no passado tem ela os seus arrepios e borboletas.

    E assim se deixa ficar, com um bloco de cimento no peito que a empurra para baixo, sempre para baixo. Para o mar gélido. Aí nada restará para a aquecer. Nem as roupas rasgadas, nem restos de um coração aquecido.

    A água a penetrar pelas falhas de quem é, até a quebrar por completo. E os olhos vazios postos no céu cinzento incharão de lágrimas que já não pode derramar.

    Um último adeus que fica. Não escreve uma carta, não há tempo. Mas crava a sua sorte numa pedra próxima. E crava a pedra no seu corpo porque sabe que ela morrerá consigo. Porque nem o que está gravado em pedra dura para sempre e nem o que está gravado em pedra chega aos olhos de quem evita a despedida.

    Um passo e a gravidade e o peso de uma consciência que deve e que teme arrancam-na para a queda.

    No descer, remorsos por quem a ama. Mas isso dura apenas um segundo.

    Depois, a dor do corpo iguala-se à da alma. O tempo suficiente para a sentir e sorrir.

    Assim morre para a vida, como morreu para tudo o resto. Para o amor, para o orgulho, para o sonho.

    Para onde vai, leva a pureza de dias passados, que lhe lavou a alma. Nada mais a magoa, não há mais dor.

    Ninguém morre duas vezes...

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  2. ...ao abrires a porta,
    estarei ali....

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